Obra promete levar água do São Francisco para PE, CE, PB e RN. Nove mil operários que chegaram a atuar na obra fazem falta ao comércio.
Do G1 PE
A meta é levar água do Rio São Francisco a municípios de quatro estados: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, por dois canais de concreto, chamados de eixo norte e eixo leste. Os recursos são empregados em escavações e construção de barragens, estações de bombeamento e canais por onde nunca correu uma gota de água. Apesar disso, a presença – e agora, mais ainda, a ausência – dos trabalhadores das construtoras e dos militares encarregados do serviço mexem com a vida nas cidades. Nove mil operários chegaram a atuar nas obras.
A seca e a paralisação estão afetando também o comércio de cidades do Sertão pernambucano. Cabrobó já viu a economia florescer, depois murchar, com a caída do ritmo das obras, e hoje comemora uma certa retomada da movimentação. O principal hotel recebe predominantemente gente que veio a trabalho e permanece por uma semana, em média. Foi preciso se adequar a esse perfil para não perder clientes. O auditório virou um quarto com cinco camas e quartos de casal agora são duplos. O próximo investimento é no restaurante.
“A gente está implementando agora um self service, estamos aguardando, planejando para atender a necessidade do trabalhador, que muitas vezes não dá pra levar sua comida pro trabalho, são os operários que precisam de uma alimentação rápida”, conta a gerente do hotel, Nara Laíse Freire da Silva.
Custódia é uma das cidades que mais cresceram com a transposição. Mas o dinheiro já não circula tanto porque a obra está parada. “O período em que estava em todo o movimento foi muito favorável para a gente. Foi aquele fluxo grande, a gente não estava preparado, e hoje a gente está sentindo necessidade daquele retorno, daquele movimento. De qualquer maneira, todo mundo quis reformar sua casa, todo mundo quis comprar seu carro, sua moto”, conta o comerciante Francisco de Assis dos Santos.
Em Sertânia, o comércio amarga a decadência. Empresários como Flávia Lopes tentam se enquadrar nas mudanças da economia. Donos de várias lojas, ela e o marido investiram na reforma de um hotel de olho nos funcionários de empresas que chegavam por causa da transposição. Não deu tempo: as construtoras foram embora, fazendo sofrer donos de supermercados, padarias, lojas em geral. “Nossa expectativa é que a obra retorne, o mais depressa possível, para que a gente possa ver renda na cidade”, conta Flávia.
Houve um tempo em que os próprios moradores do município também foram às compras, mas isso é passado. Os clientes recuaram, não têm condições de comprar móveis, eletrodomésticos, roupa. Todo o dinheiro que entra é para comida, ração para os animais e água. Os comerciantes, inclusive, criaram um nome para a época do mês em que não conseguem vender nada: é a semana das trevas.
O movimento vem apenas de quem aparece para quitar as dívidas, como a agricultora Maria Helena da Silva, de Cruzeiro do Nordeste, município vizinho. “Eu queria minha cozinha e uma mesa com cadeira”, conta ela, achando que só no ano que vem poderá por os planos em prática.
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