A família do ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu já se prepara para o pior: sua condenação em regime
fechado por envolvimento com o mensalão. Enquanto o Supremo Tribunal
Federal não decide a pena, parentes já planejam como serão as visitas na
cadeia. A refeição da penitenciária é uma das preocupações, pois ele é
reconhecido como um sujeito bom de garfo. "Meu medo é que ele se mate na
prisão", chora Clara Becker, 71 anos, sua primeira mulher e mãe de seu
filho mais velho, o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR).
Casados por apenas quatro anos na época da ditadura militar, ela é amiga
próxima do ex-marido há mais de três décadas e tem certeza de que "Dirceu
não é ladrão". "Se ele fez algum pecado, foi pagar para vagabundo que
não aceita mudar o País sem ganhar um dinheiro (...) Se ele pagou, foi pelos
projetos do Lula, que mudou o Brasil em 12 anos", afirma, referindo-se ao
pagamento a parlamentares da base aliada que receberam dinheiro para votar a
favor de propostas do governo do ex-presidente Lula, segundo a denúncia do
Ministério Público.
Para ela, militantes do PT como Dirceu e José Genoino, ex-presidente do partido, estão sendo
sacrificados. "Eles estão pagando pelo Lula. Ou você acha que o Lula não
sabia das coisas, se é que houve alguma coisa errada? Eles assumiram os
compromissos e estão se sacrificando", indigna-se. "Sabe, é muito
sofrimento. Uma vez peguei meu filho chorando de preocupação com o pai. E minha
neta, Camila, também sente muito."
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como
operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e
ex-presidente do PT José Genoíno, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o
ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de
quadrilha. Dirceu, Genoíno e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da
República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele
teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de
ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também
deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto
esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon
Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência
SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três
crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José
Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por
formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário
Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por
lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de
Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de
Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato,
corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo
por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda
parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto
Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações
finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes.
Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do
ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por
falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira
decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário
argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para
lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados
errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu
a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça
Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no
processo.
Agência Estado
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