Até 10 mil pessoas foram vítimas de presos, aponta investigação. Segundo PF, envolvimento de vice da CBF 'não diz respeito ao futebol'.
A quadrilha presa pela Polícia Federal suspeita de vender informações sigilosas violou dados pessoais de até 10 mil vítimas, informou nesta segunda-feira (26) o superintendente regional do órgão em São Paulo, Alberto Troncon Filho. A PF diz que identificou 180 pessoas, físicas e jurídicas, que tiveram o sigilo fiscal, telefônico ou bancário violados, entre elas um ex-ministro, um senador, dois prefeitos, dois desembargadores, uma filial de uma emissora de televisão e um banco. Os nomes não foram divulgados.
Este e outro grupo suspeito de cometer crimes contra o sistema financeiro nacional foram desarticulados na manhã desta segunda-feira (26) em uma operação da PF. Ao todo, 27 pessoas foram presas e 57, indiciadas. Além disso, 87 mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos estados de São Paulo, Goiás, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e no Distrito Federal.
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Um dos investigados na ação é Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) e vice da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Pela manhã, a residência do dirigente foi vistoriada e dois computadores acabaram aprendidos. Além disso, ele foi conduzido à sede da PF, onde prestou esclarecimentos e acabou liberado. O superintendente regional do órgão não deu detalhes da participação de Del Nero. Ele apenas afirmou que seu envolvimento “não diz respeito ao futebol”.A afirmação reitera nota divulgada nesta manhã pela FPF. A federação informa que a ação não está relacionada à atividade de Del Nero como dirigente esportivo ou a seu escritório de advocacia. Em entrevista por telefone ao G1, Marco Polo afirmou que não pode dar detalhes por causa do segredo de Justiça. "A única coisa que posso dizer é que não tem nada a ver com futebol nem com o meu escritório de advocacia. É uma questão pessoal", afirmou.
Ele não quis falar sobre o depoimento prestado. "Eu me apresentei, prestei esclarecimentos e fui liberado. Agora é uma questão de Justiça. Precisamos esperar e seguir a vida", disse.
Del Nero afirmou não saber que estava sendo investigado até ser "surpreendido" com a abordagem da polícia. Em sua casa, dois computadores foram apreendidos. "Toda vez que existe uma suspeita existe um sinal, mas isso precisa ser apurado. Entendo que a polícia está cumprindo seu papel, então vamos aguardar."
Dados
Carros apreendidos pela PF durante a operação
nesta segunda-feira (Foto: Divulgação/DPF)
nesta segunda-feira (Foto: Divulgação/DPF)
As investigações chegaram ao nome de diversos fornecedores, entre pessoas ligadas a empresas de telefonia, policiais civis, um PM e até um gerente de banco.“O que surpreendeu foi a grande facilidade na obtenção de dados sigilosos”, disse o delegado. Segundo ele, a finalidade dos dados era grande: podiam ser usados por empresários que queriam espionar concorrentes e até por maridos que suspeitavam da traição de suas mulheres.
Por conta do preço e da variedade de propósitos a que os dados serviriam, a PF acredita que a quadrilha violou o sigilo de cerca de 10 mil vítimas.
Valores
Dinheiro também apreendido durante ação
dos policiais (Foto: Divulgação/DPF)
dos policiais (Foto: Divulgação/DPF)
Apesar de apurar crimes distintos, a operação foi feita em conjunto por causa de um investigado. O suspeito, cujo nome não foi revelado, tem ligação com ambas as quadrilhas e exercia papel chave nas duas. “Na organização criminosa de venda de sigilo, esse investigado servia como intermediador. As pessoas o procuravam em busca de informações sigilosas. Ele se valia de seus contatos na polícia e em outros órgãos públicos e vendia essas informações”, disse o delegado Troncon Filho.
“A partir desse investigado a gente passou a identificar os dois grupos que com ele se relacionavam. E aí a operação se abriu”, acrescentou o delegado Julio Cesar Paiva Filho.
Suicídio
Segundo a PF, o inquérito policial teve início em setembro de 2011 para investigar os desdobramentos da apuração do suicídio de um policial federal na cidade de Campinas, em dezembro de 2010. O fato apontou a possível utilização de informações sigilosas, obtidas em operações policiais, para extorquir políticos suspeitos de envolvimento em fraudes em licitações.
De acordo com a polícia, a operação foi batizada de "Durkheim", em referência ao sociólogo francês Émile Durkheim, autor do livro "O Suicídio".
Cerca de 400 policiais federais participam da operação que cumpriu 33 mandados de prisão, 34 mandados de condução coercitiva e 87 mandados de busca e apreensão. Os mandados foram cumpridos em cinco estados e todos foram expedidos pela 2ª Vara Criminal Federal de São Paulo.
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